terça-feira, 25 de abril de 2017

Soares de Passos (1826-1860)

O principal objetivo é fazer uma breve analise do poema de Soares Passos através dos comentários que serão feitos por cada integrante do grupo, estará aberto para todos que se sentirem a vontade de compartilhar suas informações e conhecimentos que serão muito validos.

Por: Eduarda Araújo e Gabrielle Euflausino

O Noivado do Sepulcro

Vai alta a lua! na mansão da morte 
Já meia-noite com vagar soou; 
Que paz tranquila; dos vaivéns da sorte 
Só tem descanso quem ali baixou. 

Que paz tranquila!... mas eis longe, ao longe 
Funérea campa com fragor rangeu; 
Branco fantasma semelhante a um monge, 
D'entre os sepulcros a cabeça ergueu. 

Ergueu-se, ergueu-se!... na amplidão celeste 
Campeia a lua com sinistra luz; 
O vento geme no feral cipreste, 
O mocho pia na marmórea cruz. 

Ergueu-se, ergueu-se!... com sombrio espanto 
Olhou em roda... não achou ninguém... 
Por entre as campas, arrastando o manto, 
Com lentos passos caminhou além. 

Chegando perto duma cruz alçada, 
Que entre ciprestes alvejava ao fim, 
Parou, sentou-se e com a voz magoada 
Os ecos tristes acordou assim: 

"Mulher formosa, que adorei na vida, 
"E que na tumba não cessei d'amar, 
"Por que atraiçoas, desleal, mentida, 
"O amor eterno que te ouvi jurar? 

"Amor! engano que na campa finda, 
"Que a morte despe da ilusão falaz: 
"Quem d'entre os vivos se lembrara ainda 
"Do pobre morto que na terra jaz? 

"Abandonado neste chão repousa 
"Há já três dias, e não vens aqui... 
"Ai, quão pesada me tem sido a lousa 
"Sobre este peito que bateu por ti! 

"Ai, quão pesada me tem sido!" e em meio, 
A fronte exausta lhe pendeu na mão, 
E entre soluços arrancou do seio 
Fundo suspiro de cruel paixão. 

"Talvez que rindo dos protestos nossos, 
"Gozes com outro d'infernal prazer; 
"E o olvido cobrirá meus ossos 
"Na fria terra sem vingança ter! 

- "Oh nunca, nunca!" de saudade infinda, 
Responde um eco suspirando além... 
- "Oh nunca, nunca!" repetiu ainda 
Formosa virgem que em seus braços tem. 

Cobrem-lhe as formas divinas, airosas, 
Longas roupagens de nevada cor; 
Singela c'roa de virgínias rosas 
Lhe cerca a fronte dum mortal palor. 

"Não, não perdeste meu amor jurado: 
"Vês este peito? reina a morte aqui... 
"É já sem forças, ai de mim, gelado, 
"Mas inda pulsa com amor por ti. 

"Feliz que pude acompanhar-te ao fundo 
"Da sepultura, sucumbindo à dor: 
"Deixei a vida... que importava o mundo, 
"O mundo em trevas sem a luz do amor? 

"Saudosa ao longe vês no céu a lua? 
- "Oh vejo sim... recordação fatal! 
- "Foi à luz dela que jurei ser tua 
"Durante a vida, e na mansão final. 

"Oh vem! se nunca te cingi ao peito, 
"Hoje o sepulcro nos reúne enfim... 
"Quero o repouso de teu frio leito, 
"Quero-te unido para sempre a mim!" 

E ao som dos pios do cantor funéreo, 
E à luz da lua de sinistro alvor, 
Junto ao cruzeiro, sepulcral mistério 
Foi celebrado, d'infeliz amor. 

Quando risonho despontava o dia, 
Já desse drama nada havia então, 
Mais que uma tumba funeral vazia, 
Quebrada a lousa por ignota mão. 

Porém mais tarde, quando foi volvido 
Das sepulturas o gelado pó, 
Dois esqueletos, um ao outro unido, 
Foram achados num sepulcro só.

João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett (1799-1854)



Por: Gabrielle Euflausino

João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett (1799-1854)


Almeida Garrett deu início ao movimento literário Romantismo em Portugal com a publicação de "Camões", em 1825. Garrett ficou muito conhecido por seus poemas, romances e peças teatrais. Um dos aspectos negativos e muito criticado de sua poesia, é o tom confessional de alguma delas. Entre as principais obras do autor estão: "Camões", "Viagens na minha terra" e "O auto de Gil Vicente".


O poema a seguir foi retirado do livro Folhas Caídas:


Este inferno de amar

Este inferno de amar – como eu amo!
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é vida – e que a vida destrói.
Como é que se veio atear,
Quando – ai se há- de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… foi um sonho.
Em que a paz tão serena a dormi!
Oh! Que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim! Despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… Dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? Eu que fiz? Não o sei;
Mas nessa hora a viver comecei…
( GARRET. Folhas caídas in  MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos texto, p. 219)


Romantismo em Portugal - Gerações

Romantismo em Portugal

Por: Ana Fázio de Freitas

Nos primeiros anos do século XIX, Portugal também sofreu grandes transformações, intimamente ligadas à ascensão da classe média. A burguesia promoveria a implantação do liberalismo, doutrina filosófica que valorizava a iniciativa individual e a capacidade criadora de cada um.
Em sintonia com essas mudanças sociais, define-se o ideário romântico, introduzido em 1825 com a publicação do poema Camões, de Almeida Garrett. Com ele e com Alexandre Herculano (romance histórico), firmava-se a nova literatura, destinada a traduzir a mentalidade burguesa.
Principais representantes
Classificamos os autores românticos de Portugal em duas gerações:
1ª geração: Garret, Herculano e Castilho, bastante presos ao Arcadismo;
2ª geração: Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis, João de Deus e Soares dos Passos, já encaminhando o movimento para o Ultra Romantismo.



(Fonte: Livro: Curso prático de Português – Luís Agostinho Cadore)